Tuesday, September 04, 2007

Histórias de Embalar (Cap. VII)

O seu filho Luís, cirurgião obstetra do hospital da cidade, mandara entregar uma carta em que se despedia dos pais dizendo estar apaixonado por um anjo ruivo – a mulher da sua vida – e que ela trazia no ventre o seu filho.
Mais não podia dizer, a não ser que logo dava notícias… quando fosse possível.
Luís, deixava a mulher e Mirinha, a filha de ambos com 3 anos.
E o anjo ruivo deixava Pedro.

Sem forças e incrédulo perante tudo o que o Cmdt Cardoso contava, Pedro instintivamente tenta ligar para Katya "- Por favor, atende, por favor atende ! Isto não é verdade, isto não é verdade ! " soluçava Pedro enquanto trémulo, tentava ligar para o número que teimava em não responder.
Cmdt Cardoso envergonhado pela atitude do filho, recolhe-se para dentro da viatura da GNR e Pedro soltando um grito de dor e chorando compulsivamente, cai pelo chão quente e viril da lezíria, da sua quinta, do lar que construira para si e para o seu grande amor.

O tal a quem ele tinha aberto as portas do seu coração… para ser dilacerado.

Passaram-se alguns meses e Pedro vivia sózinho na sua grande mansão. Conseguida a custo, muito custo.

Mas Pedro vivia intensamente, continuou a trabalhar arduamente na quinta, nas Caves da família. Ajudava os filhos dos empregados com a matemática lá na escola. Fazia festas e concursos d’O Melhor Vinho da Região e dos fundos uma parte dava às vítimas das cheias do rio e outra à Câmara, na esperança de que o espólio gótico que se vai degradando pela incúria, fosse dalguma forma recuperado.

Tornou-se uma das presenças obrigatórias na sociedade filantrópica da região.

Pedro, porém, não tinha resolvido ainda uma questão : a mentira !
Não conseguia ainda entender porque Katya o tinha abandonado, porque ela tinha outro homem, porque ela lhe tinha mentido ?! E grávida do outro ?! Como é que é possível, tanta mentira?! Que arda no Inferno !! Bolas ! Nunca mais! pensava ele, agora é que nunca mais ele iria abrir o seu coração. Nunca mais !

Paralelamente, Cmdt Cardoso, não ía descansar enquanto não soubesse do paradeiro do filho: " - Um homem casado, com uma boa posição, uma boa situação financeira e faz isto ?! Que vergonha, como posso eu sair à rua ? Com que cara eu falo com as pessoas ?" indignava-se, desabafando com a mulher.
Dª Rita chorava, noite e dia, de vergonha das vizinhas também, mas calava, nada dizia, era seu filho.

E a um filho, nunca se deixa de ter amor.

Cmdt Cardoso tinha uns amigos na PJ em Lisboa e a eles recorrera em segredo, até da sua mulher. Estava determinado a fazer justiça, mm que caísse sobre o seu filho, ai se ía !

Veio a Lisboa numa tarde chuvosa e fria. Duas horas depois estava de volta a Santarém.

(continua)

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