Wednesday, February 20, 2008

... sempre intemporal...



Busque amor novas artes, novo engenho,

para matar-me, e novas esquivanças,

que não pode tirar-me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.


Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.


Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.


Que dias há que na alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.


Luis Vaz de Camões