"- Dª Teresinha!", voltou Pê a gritar.
Assustada, a velhota acudiu escada a cima a correr, o mais possivel que as pernas corcumidas pelo tempo lhe permitia: "- o que se passa, menino?".
"- Dª Teresinha", disse Pê ainda meio zonzo do que acabara de fazer, "o seu filho lá no Luxemburgo tem uma oficina de automóveis, não tem?"
"- Tem sim, menino", retorquiu a velhota já mais descansada, mas ainda assim atarantada com todo aquele aparato que via pela nesga da porta da casa-de-banho. Mas falando do seu filho, Dª Teresinha esquecia tudo o resto.
"- Graças a Deus, teve muita sorte e muita cabeçinha e está bem na vida. É ele que me aguenta aqui a pensão, menino. Manda-me dinheiro todos os meses, nunca falhou, o meu querido filho do coração.
Ele bem queria que eu fosse para lá viver com ele, mas sabe menino, aqui é que é a minha casa, onde eu sempre vivi toda a minha vida, onde o criei sabe Deus com que dificuldades, desde que o meu Francisco faleceu.
O menino lembra-se do pai do meu Tonito, lembra-se?"
Pê engoliu em seco e abanou a cabeça que não e desviou o olhar para o chão (lembrava-se sim, perfeitamente, bem de mais! Apanhara-o uma vez aos apalpões a uma das cozinheiras, ali mesmo no meio pátio. Não fora o carinho que tinha pela Dª Teresinha, naquele mesmo dia teria feito queixa à mãe e os dois estariam no meio da rua).
A velhota embalada pelas lembranças e pela emoção continuava sem parar "... tinha 49 anos quando Deus mo levou. Foi o pior dia da minha vida.
Não podia continuar na mansão, menino, as lembranças eram muitas e por isso que saí de lá. A sua mãezinha bem me chamava, mas eu não conseguia.
O meu filho, o meu Tonito, esse anjinho... é muito meu amigo... o meu bébé!"
E com isto, veio à memória de Dª Teresinha todas as dificuldades por que passou, a saudade do marido e a do filho lá tão longe.
"- Mas a vida é assim, é como Deus quer!", assim se conformava Dª Teresinha.
Apressadamente, Pê interrompe a nostalgia e retoma "- prometo Dª Teresinha, que este será o último favor que lhe peço. Eu vou para o Luxemburgo e trabalho para ele. Dia e noite. Prometo pagar-lhe tudo o que lhe devo a si e para endireitar a minha vida de novo.
Começar de novo, é isso, começar de novo!" repetia Pê, como se assim acreditasse mais fácilmente em si próprio. Mas Pê estava decidido. Iria começar de novo, sim.
"- Ó meu rico menino!", suplicava Dª Teresinha com as mãos em oração viradas para o céu, "mas não foi esse futuro que a sua mãezinha tanto ansiou para si. O menino é um doutor, não é para sujar as mãos em óleos e aquelas coisas dos carros", continuava a velhota ainda incrédula da vontade de Pê.
"- Não precisa pagar nada, logo há-de conseguir o lugar de volta no banco. Não tem que me pagar nada, menino!" dizia ela.
Carinhosamente Pê tentava convencê-la, "- A minha mãe também não queria que eu fosse um irresponsável arrogante e leviano, e foi no que me tornei ao ser doutor, Dª Teresinha. Foi ao que me levou tanto dinheiro que ganhei. Perdi tudo e quase pûs termo à vida e isso é a maior estupidez e cobardia. A pior atitude da minha vida, mais fundo não poderei ir."
E continuava, " preciso andar para a frente, Dª Teresinha e por isso lhe peço que me deixe sujar as mãos. Eu faço o que for preciso. Trabalho digno e honesto fará de mim um novo homem."
Dª Teresinha em lágrimas e rendida à energia que Pê irradiava ao falar, dirigiu-se para o telefone e ligou ao Tonito, ao seu bébé, ao seu bem sucedido bébé!
"Toniiito? É a mãe, querido....!"
(continua)
Tuesday, July 17, 2007
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