Thursday, July 19, 2007

Histórias de Embalar (Cap III)

Dia e noite. Trabalhava Pê na oficina "Merveille du Portugal": a oficina de Tonito. Dia e noite.

Ao fim de 3 meses, Pê conseguira juntar o suficiente para pagar a Dª Teresinha pela estadia na sua pensão e ainda assim começar a endireitar a sua vida.

Para ele era duro, uma prova bem dificil, mas iria suportá-la.

Nunca tinha percebido o quão dificil era trabalhar horas e horas e receber pouco, não ter folgas, nem festas, nem alucinantes, nem amigalhaços para jogar, nem Porsche Carrera para se regozijar de cabelos ao vento como antigamente, nem tempo para engatar miúdas e nem apetite para as procurar. Depois de Táta, nada nem ninguém o poderiam voltar a satisfazer. Até porque Pê não se queria mais satisfazer.

Reparara que afinal era a sua escolha e sentia-se bem assim, sózinho.

A sua única necessidade era alimentar a alma de esperanças e alentos. Os afectos estavam fechados numa caixa e a chave, perdida em nenhures... assim pensava Pê.

Tonito e Pê tinham-se tornado amigos, mas não como os outros, os da outra época.

Com Tonito, Pê podia falar de si próprio que alguém ouvia e se interessava; não escondia o seu passado; tinha sido aceite pelo que ele era e demonstrava ser e não pelo que possuia, que aliás, era agora nada.

Tonito não era bem o anjinho que Dª Teresinha pensava, mas era um bom amigo e um bom patrão e isso é que importava.

Começou a ter folgas de vez em quando e aproveitava para dar uns passeios pela cidade.
Luxemburgo era um meio pequeno, mas era um novo grande mundo para si e Pê voltara a ser: Pedro!

Certo dia, num dos seus passeios pelo parque, dois individuos de estatura mediana, larga e roliça, abordaram Pedro.
Queriam cigarros, Pedro não fumava.
Queriam dinheiro, Pedro não tinha e o cerco apertava mais.

Até que Pedro tentou empurrá-los do seu caminho e de um dos bolsos saiu um calibre 45, luzidio e poderoso e bem apontado ao seu fígado.

Pedro relutante parou e tentou conversar, mas nada os demovia e nesse mesmo instante só sentiu uma coronhada na cabeça e cair, como que para dentro dum poço frio e escuro, onde tudo se apagou de repente.
(continua)

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