Wednesday, July 11, 2007

Histórias de Embalar

Pedro vivia sózinho na sua grande mansão.

Conseguida a custo, muito custo.

Era a inveja contida dos vizinhos, dos lavradores da região.

Passaram-se 10 anos desde que Pê (era como os amigalhaços lhe chamavam) decidira largar a vida da cidade, metrópole dos horrores da noite, dos vícios carnais e mundanos, das longas horas de jogo, alcool e sexo...

Pê pertencia à administração dum pequeno banco, mas o ordenado era de Lorde e como Lorde ele vivia e gastava. No jogo, na dose e com Táta.

Táta, deusa, louca e divertida Táta.

Não a podia chamar de namorada, ele desconfiava que ela dormitava com a melhor amiga dela e tb um colega lá da Editora. Mas isso não importava a Pê, ele era doido por ela e não a largava nem por nada.

Ela tinha sido a única que até aquele dia, lhe tinha vindo a proporcionar os melhores orgasmos como nunca ninguém antes. E se ele teve outras antes...

Táta era sensual, divina mestre da arte, trabalhava-o ao ponto de ele se desprender da alma e o seu corpo virar marioneta de prazer lascivo nas mãos dela. Com ela ele derretia e era assim que até gostava de morrer, enterrado nos seus fluídos, ensurdecido pelos guinchos libidinosos e perdido fálicamente no tempo.

Pê sabia que isso era o máximo que Táta podia dar: bom sexo, alias extra-fenomenal sexo, nada mais... e afinal nada mais interessa, só complica, só atrapalha.

Pê passava no supermercado para comprar mais garrafas de Cardhu e de caminho parava na farmácia do Sr. Mário para novo stock de seringas. Ía buscar Táta às 20h30 e quem trazia o "material" era Carlão, o tal que ele desconfiava. E era assim todas as 5as feiras.
Festa rija! Sempre.

Até que, até que a dose lhe começou a atordoar os sentidos e a razão, perdendo a cada semana mais que na anterior. Hipotecou a casa, vendeu as jóias, os terrenos, o seu Porsche Carrera, tudo que o dinheiro tinha podido comprar.

Até que os ciúmes se apoderaram cada vez mais dele deixando-o no limiar da loucura, do desespero pela perda de Táta.
E assim se viu sem nada, sem dinheiro, sem o Porsche Carrera, sem os amigalhaços... e sem Táta.

Viveu uns dias na Pensão da Dª Teresinha, por caridade.
A senhora tinha sido governanta da mãe e tinha pena do menino e albergava-o como se dum próprio filho se tratasse.

Pê nem queria acreditar, tinha perdido tudo.
Os amigos nunca mais o quiseram ver e pior que tudo: veio a saber que Táta tinha engravidado de Carlão.

Nesse mesmo dia, Pê resolveu cortar os pulsos.
Fechou-se na casa-de-banho, água a correr na banheira, post-it no espelho com a mensagem "Merda para todos vocês!" e ... e... não conseguiu!

Pê ficou a olhar o espelho, e.... não conseguiu.

Arrancou o post-it amarelo, deitou-o para a sanita, voltou a olhar para o espelho e pensou: "- Não foi para isto que eu torrei as pestanas a estudar, não foi para isto que me puseram no mundo! Não! Não me vou enterrar mais! BASTA!"

Limpou a cara do suor, do choro e ranho que os nervos e o desespero tinham encoberto e dali triunfantemente gritou: "Dª Teresinhaaa!! "

[Continua]

No comments: