Monday, September 17, 2007

Histórias de Embalar (Cap. XII)

" - Boa tarde Sr Cardoso, que tal vai isso?", cumprimentava Pedro, sem suspeitar de nada, ao avistar o Cmdt Cardoso chegando à vinha.
Pedro verificava com minúcia o estado das uvas depois da geada da noite anterior e estava todo contente: nem um arranhão, a colheita vai ser das boas, pensava ele.

Cmdt Cardoso vinha com um ar sério, " - Venho falar-lhe da Katya ! "

Pedro mudou imediatamente de expressão “ - Sr Cardoso, não estou interessado em saber nada dessa aldrabona!”, retorquiu.
" - Mas vai-me ouvir Pedro, vai-me ouvir!“ disse Cmdt Cardoso com firmeza na voz.

Pedro viu que não havia nada a fazer e por respeito resolveu anuir, até podia ser que o homem fosse rápido.
Levou-o para o salão da casa. Ofereceu-lhe um Whisky. Cmdt Cardoso, apesar de não beber há anos, aceitou. Deu um trago e começou a contar tudo.

No final, Pedro com desdém, pergunta " - Foi ela que mandou o Sr vir aqui dizer essas aldrabices todas ? O que é que ela quer com isso, hum ?"
E antes que Pedro pudesse abrir a boca de novo, Cmdt Cardoso interrompe-o: "- Homem, cale-se e oiça ! " e continua " eu não vim aqui a mando de ninguém, Deus sabe a minha integridade que sempre soube manter em todos estes anos de carreira ! Vim aqui para lhe dizer que a mulher que você julga que o enganou, foi raptada para lhe tirarem um rim e que viveu estes meses todos sem dizer nada sob pena que lhe estragassem a vida a si ! Fez tudo só para o proteger ! E a causa disto tudo foi o meu filho ! " gritava já fora de si.
" - Ainda acha que vim contar histórias ?!?" continuava, apesar da respiração sofrega lhe começar a pregar a partida de ir perdendo o folego para continuar.

Pedro que sempre conhecera o Cmdt Cardoso por ser um sujeito pacato, viu que realmente ele estava a falar a sério e resolveu deixá-lo terminar sem mais interrumpções. Até porque nem conseguia dizer o que quer que fosse.

" - Que faz você nesta grande casa, consegue sózinho fazer disto um Lar, hein ? Consegue ?! Sem Amor de nada servem as suas posses, Pedro. É na partilha com quem amamos que residea grande parte da nossa felicidade. Se não se entregar como é que vai saboreá-la ?" e Cmdt Cardoso terminou acrescentando " - O meu filho fez a maior asneira da vida dele, mas por amor à mulher, para salvá-la. Se você não salva a sua, essa vai ser a maior asneira da sua vida!".

E sem mais nada, pousa o copo que tinha na mão e sai direito ao portão da quinta sem nunca, uma vez só, olhar para trás, deixando assim Pedro sem palavras.
A sua missão estava cumprida.

Pedro dividido entre a raiva e o ódio ao filho do Cmdt Cardoso; entre a alegria de que tudo tinha sido mentira ; entre a vergonha e remorso por não ter acreditado na mulher que mais amava ; entre a maravilha de ser pai, pai da pequena Benedita; entre o que fazer e não fazer... num turbilhão de pensamentos, chega sempre à mesma conclusão: que sem o seu anjo ruivo nada fazia sentido, nada interessava.

Dez minutos depois tomou o rumo de Lisboa, em busca dos seus anjos.


E viveram os três na mansão, conseguida a custo, muito custo... e felizes para sempre.


FIM

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