Monday, December 24, 2007

Há vésperas e vésperas...

Hoje tive que vir trabalhar, poderia não vir é um facto. Na empresa onde labuto no dia-a-dia, deram a escolher o 24 ou o 31 - oferta aos empregados - bonito!

Eu escolhi o 31.
Do 24 só vai ficar a manhã, porque a tarde também a deram - mais bonito ainda.

Como eu dizia, hoje tive que vir trabalhar, porque quis, porque não tenho que ficar em casa a fazer filhoses, porque não tenho ninguém para lá ir cear e por isso não tenho que nada preparar, porque falta isso mesmo: calor do forno, das conversas de cozinha, das azáfamas das toalhas de renda limpas e bem engomadas, das mesas bem enfeitadas e das luzes de Natal todas a funcionar.
Mas não deve ser só a mim que isso falta, porque hoje tive que vir trabalhar e cheguei atrasada, logo no dia que consegui sair a horas de casa.
Houve alguém que não aguentou, alguém que desistiu, alguém que perdeu a esperança e se lançou à linha, à linha do comboio e lá ficou... a sua carcaça, os histerismos de quem viu, o trauma na mente do maquinista que nada pôde fazer para o evitar e os desagrunhos de quem já ía atrasado e sem saber a razão, botava culpas e culpas na CP "- a mesma coisa de sempre, esta porcaria de comboios, sempre atrasados!"

Cheguei 1h e meia mais tarde, mas cheguei, o outro já não.
Livrou-se, quem sabe, de dívidas, da solidão, de traições, de desarranjo mental, de seja lá o que for.
Logo haverá um vazio na mesa dos seus familiares (se é que os tinha).

A minha véspera vai ser bem diferente, vou ao encontro dos meus, dos que ainda habitam o meu coração e é o que me ajuda a aguentar... só mais um pouco, deve bastar.
Este ano começa a já não haver filhoses, não há forças para bater a massa, o cansaço da idade encortiça as mãos e entorpece os movimentos. Também faz parte da vida, o envelhecer, o perder as pessoas que amamos pelo caminho, o encovar das olheiras e a meditação sem querer.
Mas eles ainda cá estão, os dois e depois temos o Afonso! E é o que importa.

Além disso as filhoses engordam e dão cabo do colesterol...

Boas Festas para todos!!!

2 comments:

osbandalhos said...

É um dia confuso para pensar se devemos agradecer, e a quem, a vida.
Talvez um dia se festeje a morte mais que o nascimento.
Prefiro o natal a poucos, e o sossego ao amor, mesmo sem filhós.

**** said...

Ele há culturas que acontece isso mesmo: festeja-se a morte.
Pela simples razão de que se crê ser a passagem para algo muito melhor, onde existe o descanço, onde temos o aconchego da "luz".

... se bem que há quem julgue ter 70 mil virgens à sua espera - que trabalheira!